Rachel Goswel, do Slowdive, fala sobre os shows no Brasil e diz esperar conhecer Robert Smith

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Rachel Goswel, do Slowdive, fala sobre os shows no Brasil e diz esperar conhecer Robert Smith

Guitarrista e vocalista da veterana banda também falou sobre a redescoberta do quinteto por uma nova geração

– Rachel Goswel, do Slowdive, fala sobre os shows no Brasil e diz esperar conhecer Robert Smith

Prestes a retornar ao Brasil, o Slowdive tem uma trajetória pra lá de curiosa. Quando surgem, no final de 1990, com seu som calcado nas guitarras carregadas de efeitos e vozes enterradas na mixagem, o quarteto é saudado pela imprensa britânica como um dos melhores expoentes da nova geração do rock independente, os “shoegazers” ou “fitadores de sapatos” – nome irônico que foi dado pelos jornalistas graças ao fato de seus músicos estarem sempre olhando para o chão para coordenar a quantidade de pedais usados nos shows.

Poucos meses depois, a história já era outra, com o grunge de Seattle começando a aparecer, bem como a geração que desembocaria no Britpop, a música da banda passou a ser vista quase que imediatamente como fora de moda. O Slowdive vira um dos alvos favoritos da imprensa britânica, e chega ao fim pouco depois do lançamento de seu terceiro álbum, em 1995.

Slowdive

A história não termina aí. Com o passar dos anos, o shoegaze, agora também chamado de “dream pop”, foi redescoberto por novas gerações e o Slowdive se torna uma banda cult, com o álbum “Souvlaki”, de 1993 em particular, se tornando um dos favoritos entre esses admiradores.

O quinteto volta a tocar em 2014, agora para um público muito maior do que aquele dos anos 90, e lança em 2017 um elogiado disco de retorno. Foi durante esta turnê que eles vieram ao Brasil para tocar na primeira edição do Balaclava Fest.

Seis anos depois, e com um disco ainda melhor para divulgar, Nick Chaplin, Rachel Goswell, Neil Halstead, Christian Savill e Simon Scott estão voltando ao país para dois shows ligados ao Primavera Sound, ambos em São Paulo: um no festival propriamente, em 2 de dezembro, e o outro no Cine Joia, dentro do Primavera na Cidade, dois dias antes, em 30 de novembro.

De sua casa, Rachel encontrou um tempo para falar com o Vagalume sobre esses concertos, o novo disco, a expetativa de poder finalmente conhcer Robert Smith, do The Cure, fã declarado da banda, e sobre como é tocar para um público renovado.

Slowdive

“Everything Is Alive” é um caso raro de “segundo álbum de retorno” que se mostrou até mais bem sucedido que o primeiro, tanto em termos de público quanto de crítica (a média no Metacritic está em 82 e ele chegou ao top 10 do Reino Unido, feito inédito na carreira deles). Vamos começar então falando sobre ele.

Rachel: Bem, Neil estava escrevendo há cerca de um ano. No começo, eram apenas ideias para um disco solo dele, mais eletrônico. Nós decidimos tirar 2019 de folga, porque estávamos muito cansados, mas no final do ano, todos começamos a ficar inquietos, querendo trabalhar novamente.

Ele então nos enviou tudo o que estava fazendo e escolhemos cerca de 15 daquelas ideias que foram reduzidas às oito que estão agora registradas no disco. Faixas como “Kisses” já estavam totalmente formadas. E “Prayer Remembered” também. Nós fomos periodicamente para o estúdio para acrescentar as nossas partes e, em seguida, Neil levava tudo para a casa dele para continuar mexendo no material. Isso durou até o verão do ano passado.

Nesse momento, vimos que precisávamos contratar outra pessoa para mixar o disco. Alguém com ouvidos novos. O Neil vai ser o primeiro a admitir que não consegue mixar as faixas propriamente, e foi aí que Sean Everett entrou em cena. Mas até a última hora, nós estávamos comparando as mixagens feitas por ele Sean com as que o Neil tinha feito, e duas delas, agora não me lembro quais, acabaram sendo as do Neil.

Isso é algo que se nota no álbum. Ele tem o “DNA do Slowdive”, mas percebemos uma clareza maior, especialmente nas vozes desta vez.

Slowdive

Sim, isso foi algo que o Sean fez, trazendo as vozes um pouco mais para frente do que o normal, então sim, quero dizer, acho que foi bom ter outro par de ouvidos para escutar as músicas.

E como está sendo levar essas músicas para o palco?

A gente acabou de voltar dos Estados Unidos. Nós abrimos com “” e também estamos tocando “prayer remembered“, “kisses” e “the slab“. Até o momento foi aí que a gente chegou (risos). Está sendo ótimo e divertido tocar essas músicas novas ao vivo e isso também deixa as coisas mais frescas para nós.

O que podemos esperar dos shows no Brasil?

O primeiro show obviamente será mais longo, com o que tocamos normalmente, com um set que abrange todos os nossos discos. No festival, eu ainda não sei quanto tempo teremos, mas ele será uma versão condensada do show tradicional. Não vai demorar tanto, essa é a principal diferença (risos).

Vocês sofreram um bocado nas mãos da imprensa britânica nos anos 90. Hoje, com esse reconhecimento, inclusive da própria mídia, se sentem “vingados”?

Isso era muito típico da imprensa do Reino Unido naquela época. Quando eles detinham muito poder, obviamente, eles não detêm esse poder agora porque temos a internet e as pessoas podem decidir por si mesmas. E essas críticas eram as opiniões de duas ou três pessoas. E eles sempre queriam encontrar maneiras de vender jornais, basicamente. Isso é tudo com que eles se importavam. Eles realmente não se importavam muito com a música.

Mas isso (o bombardeio) só aconteceu neste país. Nós excursionamos pela Europa e América do Norte várias vezes ao longo de cinco anos com bastante sucesso. E tivemos boa receptividade da imprensa em todos os outros lugares. Foi apenas em nosso próprio país.

Hoje, a sensação é a de que há uma nova geração de fãs.

Slowdive

Sim. Sim, isso ainda é verdade. Há muitos jovens em nossos shows. Você tem adolescentes na frente e é muito, muito perceptível o quão jovens são muitas das pessoas que vêm nos ver tocar. Definitivamente atravessa gerações. Há pessoas da nossa idade que estão trazendo seus filhos adolescentes. E nesses seis anos que separam esse disco do anterior, a coisa parece que ficou ainda maior. Me falaram que pode ter a ver com o TikTok. Talvez seja, não sei porque não estou lá (risos), mas é algo que acontece com muitas bandas.

Como vocês já devem saber, o Slowdive tocará no Primavera com o The Cure, ainda que em dias diferentes. Sabemos que Robert Smith é um fã delcarado da banda. Existe uma amizade entre vocês?

Para ser honesta, eu nunca estive pessoalmente com o Robert. Eu já conversei com ele por e-mail em algumas ocasiões, mais sobre assuntos relativos a ações de caridade, mas ainda não o conheci. Talvez o encontremos no Primavera. Não vamos tocar no mesmo dia, mas esperamos que finalmente consigamos nos conhecer.

Quando o show deles foi confirmado no festival, ele disse que além do Cure os fãs ainda poderiam ver outras bandas ótimas, como o Slowdive.
Eu não sabia disso.

É claro que gostaríamos de tocar no mesmo dia que o Cure também. Mas, vamos tocar em outras edições do Primavera onde estaremos com com eles. Sabe, eu fui em dezembro para Londres ver o Cure em Wembley, e foi a primeira vez em muito tempo que os vi ao vivo, na verdade.

The Cure

Eu os vi na turnê do “Kiss Me Kiss Me Kiss Me” (1987), quando eu tinha 18 anos ou 17 anos. Meu irmão me levou e, eles eram incríveis naquela época. Mas eles também foram incríveis em dezembro passado. As três horas de show voaram. Nem pareceu que eles tocaram por tanto tempo, sabe? Porque são tantas músicas, tantas músicas brilhantes. E sim, quero dizer, eles têm esse lance [no palco]. Eles realmente são algo para se ver.

Rachel Goswel, do Slowdive, fala sobre os shows no Brasil e diz esperar conhecer Robert Smith.


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