Ouça 10 discos clássicos da cantoras fundamentais da música brasileira
Ouça álbuns de Rita, Elis, Gal, Marisa, Cássia, Elza e mais
– Ouça 10 discos clássicos da cantoras fundamentais da música brasileira
Neste dia Internacional da Mulher, prestamos um tributo a todas elas, escolhendo dez álbuns que fizeram e fazem história, com discos que para sempre serão ouvidos. Para esta seleção, usamos como base três listas de “melhores de todos os tempos” e tivemos um só critério: os discos deveriam ser creditados apenas a uma mulher. Com isso, ficaram de fora LPs feitos por bandas com integrantes de ambos os sexos, discos coletivos e aqueles creditados em parceria com um homem. Também não repetimos nenhum nome, ainda que todas tenham outros trabalhos dignos de figurar aqui.
Por ser mais recente, o livro “Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos Os Tempo”, que traz uma lista apurada a partir de 162 votos pelo jornalista Ricardo Alexandre, do podcast “Discoteca Básica”, foi a principal fonte na hora de decidir quem entraria e com qual obra. Outras duas listas, estas com 100 álbuns cada, serviram também como base: a feita pela Revista da MTV em 2003 e a da edição brasileira da Rolling Stone, de 2007.
“Fruto Proibido” – Rita Lee (1975)
O primeiro disco de Rita na Som Livre lhe abriu as portas para o sucesso, que chegaria com força em poucos anos. “Fruto Proibido” é o grande clássico da ex-Mutante, e até a cantora, que costuma ser bastante crítica em relação à sua obra, concorda que o trabalho é um marco. Os críticos também acham. Se descontarmos “Elis e Tom”, este é o álbum feito por uma cantora que primeiro aparece nas três listas que nos ajudou a fazer esse especial (15° na dos “500 Maiores Discos”, 16° na Rolling Stone e 17° na Revista da MTV), enquanto a saudosa revista Bizz o considerou o terceiro maior disco do nosso pop/rock.
“Fruto Proibido” tem muitos destaques, “Dançar Pra Não Dançar“, a luminosa “O Toque“, “Esse Tal de Roque Enrow“, a feminista “Luz Del Fuego” e duas músicas que podem ser colocadas em pé de igualdade com o melhor do rock anglo-americano: “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra“
“Gal A Todo Vapor” – Gal Costa (1971)
“FA-TAL”, como ficou mais conhecido, é um dos relativamente raros discos duplos da música brasileira. Gravado ao vivo, ele trazia Gal com a honrosa missão de manter a chama tropicalista viva no momento em que Caetano e Gil estavam exilados. Além de belo do ponto de vista musical, ele também é um importante documento histórico por ter se tornado um dos símbolos da chamada “geração do desbunde” – o pessoal que encarou a ditadura militar apostando no hippismo e liberdade comportamental, em contraponto ao lado mais politizado e sério da resistência.
O LP também é uma unanimidade crítica: 20° lugar na Rolling Stone, 22° no livro dos 500 discos e 27° na Revista da MTV
“Falso Brilhante” – Elis Regina (1976)
Como já dissemos, o disco que Elis gravou com Tom Jobim é o trabalho com a presença dela que melhor aparece nas listas de maiores álbums já feitos no Brasil, sempre entre os primeiros lugares. Já quando se fala em “disco solo”, a preferência recai sobre esta “versão em LP” do show mais marcante feito por uma das maiores artistas que já nasceram neste país.
O disco que tem “Como Nossos Pais“, “Velha Roupa Colorida” (ambas de Belchior) e “Fascinação” é daqueles que, ano a ano, vai ganhando mais força entre os especialistas. Na Revista da MTV, ele surgiu em 45° lugar. Anos depois, na Revista da MTV, ele já estava em 36° e, agora, no livro dos “500 Discos”, “Falso Brilhante foi eleito o 32° melhor álbum já feito por um artista brasileiro.
“A Mulher Do Fim Do Mundo” – Elza Soares (2015)
O “caçulinha” de nossa lista é também o único disco aqui presente gravado por uma cantora que já tinha muitos e muitos anos de carreira quando foi lançado (mais de 50, no caso dela). “A Mulher…” revitalizou a carreira de Elza em uma feliz união entre a cantora e nomes da nova geração paulistana (Kiko Dinucci e Romulo Fróes entre eles). A mistura de samba, guitarras “tortas” e experimentalismos musicais diversos era arriscada, mas deu liga e levou Elza novamente ao lugar de onde nunca deveria ter saído: entre as estrelas do primeiro time da música brasileira. “A Mulher…” ainda a tornou um símbolo de resistência e fonte de inspiração para toda as novas gerações.
Lançado em 2015, ele está em 45° lugar no livro compilado por Ricardo Alexandre, o que faz dele, ao menos de acordo com um grupo de especialistas, o melhor disco já feito no Brasil no século 21.
“Verde, Amarelo, Anil, Cor-De-Rosa e Carvão” – Marisa Monte (1994)
O terceiro disco da cantora, e figura maior da música brasileira pós-anos 70, é visto como seu trabalho definitivo. Grande sucesso de público, ele também cativou, e segue cativando, novos ouvintes e também os críticos. O álbum que tem “Segue o Seco” e “Na Estrada” ficou em 49° lugar na votação da Revista da MTV, em 66° no livro dos 500 Maiores Álbuns e em 87° na da Rolling Stone.
“Canção do Amor Demais” – Elizeth Cardoso (1958)
O mais antigo destes 10 discos é, acima de tudo, um grande documento histórico, afinal ele mostra exatamente como era a música brasileira até aquele momento, e para onde ela iria. Lançado quase sem alarde por um selo especializado em discos de poesia, “Canção…” é todo composto por músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e tem, quase sempre, arranjos que, hoje, podem ser vistos como de “velha guarda”.
Mas há alguns vislumbres do futuro, e eles surgem quando um ainda desconhecido João Gilberto entra em cena e toca, pela primeira vez em disco, a sua mítica batida de violão. O baiano está presente em duas faixas, uma delas “Chega de Saudade“, que ele mesmo regravaria meses depois causando aquela que é vista como o momento de virada da música feita no Brasil. O LP está em 59° lugar na lista da Rolling Stone, 69° no livro dos 500 Álbuns e em 92° na da Rolling Stone.
“Angela Roro” – Angela Roro
Quando lançou seu disco de estreia, Roro já tinha muita experência tanto de música quanto de vida. Um dos mais dolorosos álbuns já feitos no Brasil, este LP traz a cantora e seu piano se derramando em baladas de tonalidade blue que a colocam como parte de uma linhagem que teve Maysa como precursora e Cássia Eller como sucessora.
“Angela Roro” não apareceu no ranking da revista da MTV, mas no da Rolling Stone ele apareceu na 73ª colocação e, no livro dos 500 Álbuns, subiu um posto.
“Álibi” – Maria Bethânia 1978
O álbum que colocou a “Abelha Rainha” em um outro patamar, o de megavendeora de discos, “Álibi” marcou época com as interpretações da cantora para “Ronda“, “Negue“, “Cálice” e, os hits maiores, “Sonho Meu” e “Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)“.
O LP não figurou na lista da Revista da MTV, mas surgiu em 79° na da Rolling Stone e em 96° no livro dos 500 Álbuns.
“Nara” – Nara Leão (1964)
Demorou, mas, finalmente, Nara Leão, morta em 1989, está sendo reconhecida como quem realmente foi: uma artista revolucionária, um grande símbolo feminino e uma cantora que esteve presente nos grandes momentos da música feita no Brasil de seu tempo e que soube manter-se independente deles.
Tome seu disco de estreia como exemplo. Feito quando ela ainda era vista como a musa da bossa-nova, ele já a traz rompendo com o movimento, que ela passa a considerar elitizado, e abraçando outros estilos, como o samba de morro, a música de protesto e os afrosambas de Vinícius e Baden Powell.
Resumindo: o LP antecipava a “canção de festival” e pode ser visto como o momento de nascimento de um novo gênero, que futuramente seria chamado de “MPB”. “Nara” não entrou nem na lista da Revista da MTV ou na da Rolling Stone. Já no livro dos 500 Álbuns, ele surgiu em 113° lugar. Podem apostar, que quando outro ranking do tipo for feito, tanto o disco quanto a cantora, irão aparecer com muito mais destaque.
“Acústico MTV” – Cássia Eller (2001)
Cássia era daquelas artistas que, por melhor que fosse em estúdio, brilhava mesmo no palco. Daí não surpreender que seu trabalho mais querido seja o álbum que registra sua participação no “Acústico” da MTV. Mostrando a cantora em ótima forma e com um repertório muito bem escolhido, com a ajuda fundamental de Nando Reis, ele acabou se tornando o disco de despedida da cantora, que morreu apenas sete meses depois de seu lançamento, em janeiro de 2002.
Dois anos depois, a Revista da MTV o elegeu o 35° melhor disco brasileiro já feito. Ele não apareceu no Top 100 da Rolling Stone, mas, no livro dos 500 Álbuns ele ressurgiu, agora no 130° posto (em compensação, outros dois trabalhos dela também figuram na relação)
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