Entenda a carreira de Rod Stewart através de cinco músicas clássicas do cantor
Com uma longa carreira, astro da “voz rouca” já gravou blues, pop, folk, standards, baladas e muito rock and roll
– Entenda a carreira de Rod Stewart através de cinco músicas clássicas do cantor
Mas por trás do cara que só quer curtir a vida, está também um dos maiores cantores da história do rock, um artista que aprendeu com os mestres do soul e R&B e criou um estilo próprio.
O melhor de sua carreira está mesmo entre o final dos anos 60, quando ele desponta como vocalista da banda de Jeff Beck, até meados da década seguinte, quando ele faz parte dos Faces e lança álbuns pelo selo Mercury. Em 1975 ele foi para a Warner, e acabou “contaminado” pelo estilo de vida de Los Angeles. Ou ao menos foi assim que a crítica especializada resumiu – não por acaso, ele foi das maiores “vítimas” do movimento punk. Claro que a história é mais complexa, e todos os seus discos escondem grandes momentos.
É claro que nem ele , e muito menos o grande público, ligaram muito para essas discussões. Stewart seguiu vendendo muito e fazendo shows para grandes plateias (três dos mais marcantes aqui no Brasil: duas vezes no primeiro Rock In Rio, em 1985, e outro em Copacabana em pleno Réveillon, de 1994 para 1995).
Rod segue em plena atividade, gravando bastante, seu 32° disco solo acaba de sair, e fazendo shows onde tanto ele quanto o público, se divertem demais. As cinco canções abaixo ajudam a contar, de maneira bem resumida, essa trajetória.
“Shapes Of Things” com o Jeff Beck Group
Rod Stewart já vinha gravando compactos esporádicos desde meados dos anos 60, mas sem jamais causar nenhum tipo furor. Sua voz rascante só se tornaria mais conhecida quando ele entrou para o Jeff Beck Group, a banda que o lendário guitarrista montou após deixar os Yardbirds e que pode ser considerada uma das precursoras do rock pesado – há uma corrente de fãs e estudiosos do rock que afirmam que “Truth”, lançado em julho de 1968, pode ser considerado o primeiro disco de heavy-rock já feito, ao trazer uma versão mais pesada, e branca, do blues norte-americano.
Duvida? Então ouça essa regravação de “Shapes Of Things“, um dos maiores hits dos Yardbirds, e veja se ela já não antecipa o som do Led Zeppelin que seu amigo/rival Jimmy Page (outro que também tocou nos Yardbirds) logo montaria:
“Stay With Me” com os Faces
Rod gravou apenas dois discos com Beck. Poucos meses depois de terminadas as gravações de “Beck-Ola”, o cantor já estava preparando seu primeiro trabalho solo – “An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down”, saiu no final de 1969 nos EUA e começo de 1970 no Reino Unido.
Paralelamente ele, e seu amigo Ronnie Wood, o baixista do Jeff Beck Group, se juntaram a Ronnie Lane, Ian McLagan e Kenney Jones, que estavam ao léu depois que Steve Marriott deixou os Small Faces e criaram o Faces, muito provavelmente a melhor banda da história a fazer um som “tipo Rolling Stones” sem ser a banda de Mick Jagger.
Os Faces ganharam fama pelos shows divertidos, os bons discos e, acima de tudo, pelas quantidades obscenas de álcool que consumiam onde quer que fosse – em determinado momento eles já levavam um barman para o palco. O quinteto deixou quatro álbuns e um momento eterno do rock: “Stay With Me“, o principal single de “A Nod Is As Good As a Wink… to a Blind Horse”, o terceiro (e melhor) álbum deles.
Rod conseguiu levar simultaneamente sua carreira solo e a de vocalista dos Faces – ao vivo ele só fazia shows com a banda. Incrível também como ele atingiu um pico de criatividade que nunca mais teria no resto de sua carreira em 1971,ano em que saiu não só o melhor disco dos Faces (o já citado “A Nod Is As Good…”), como também sua grande obra-prima como solista.
“Every Picture Tells a Story”, foi daqueles discos que imediatamente já foram considerados clássicos e atingiu um sucesso que ele até então nunca havia chegado nem perto – número 1 nos EUA e Reino Unido. “Maggie May” se tornou a sua marca registrada e também encabeçou os rankings britânicos e americanos. O mais engraçado é que a música na verdade saiu como lado B do compacto, a aposta da gravadora era a de que “A Reason To Believe” seria o hit do disco. Os programadores de rádio, pelo visto, não concordaram e deram preferência para o “lado errado” do single.
Os Faces chegaram ao fim em 1975 com Ron Wood finalmente realizando o sonho de ser um Rolling Stone e Rod abraçando a vida de mega-popstar em Los Angeles. Para os fãs de sua fase roqueira, a mudança para a cidade acabou de vez com o artista, mas o grande público certamente não concordou. Seus discos a partir de “Atlantic Crossing”, por mais irregulares que sejam, vendem muito e rendem uma série de sucessos radiofônicos, muitos deles de respeito.
A passagem do tempo ajuda a a vermos essa fase com olhos mais complacentes – é possível resistir a “Do Ya Think I’m Sexy?“, com sua linha melódica “emprestada” de “Taj Mahal“, de Jorge Ben Jor? (ele conheceu a música em uma visita ao Brasil) e um número 1 global?
Não se nega também a beleza de singles como “I Don’t Want To Talk About It“, o pop certeiro de ” ou “” (essas já da década de 1980) e, claro, o charme kitsch de “Tonight’s The Night”, com Stewart caprichando no ar canastrão e cantando uma letra que, hoje em dia, certamente não seria aceita com muita naturalidade (“Não diga uma palavra, minha criança virgem…”). A balada chegou ao quinto lugar na Inglaterra e em primeiro nos EUA.
Rod nunca deixou de lotar seus shows, ou de emplacar o ocasional hit nas paradas, mas seus álbuns feitos nos anos 90, não despertaram maiores paixões de público ou crítica, uma notável exceção foi o seu “MTV Unplugged”, um dos melhores da série.
Em resumo, ele parecia estar com a carreira estagnada, ainda que em um belo ponto, ao menos do ponto de vista financeiro. Foi então que ele aceitou um convite do magnata da indústria Clive Davis para gravar um disco com grandes clássicos do cancioneiro americano.
Voz para a empreitada sabemos que ele tinha, mas era um projeto de risco que poderia ter dado em nada ou virado uma nota de rodapé em sua trajetória. Mas não foi isso o que aconteceu. O CD, “It Had to Be You: The Great American Songbook”, de 2002, estourou de vendas e deu origem a uma série de trabalhos dedicados a esse repertório: foram cinco volumes, mais um disco de natal e outros dois álbuns de releituras em formato mais pop, um com clássicos do soul e outro do rock, que venderam milhões de cópias.
Tudo levava a crer que Rod iria passar o resto da vida com duas carreiras distintas: no estúdio como o crooner que interpreta grandes clássicos, e no palco o roqueiro que ainda anima multidões com seus grandes hits. Mas não foi bem assim que a história se desenrolou.
Em 2012 ele lançou sua divertidíssima autobiografia e, tomou gosto pela composição. Desde então ele lançou quatro discos, incluindo “The Tears of Hercules“, que chegou ao mercado na sexta-feira passada, com canções pop simpáticas, do tipo “gostosas de ouvir”.
São discos que não buscam mudar a vida de ninguém, ou feitos como manifestos sobre a terceira idade, como os álbuns maduros de Dylan, Bowie ou Leonard Cohen, mas que tendem a funcionar como bons trabalhos de música pop feito por um cantor que já passou dos 70 anos, segue com a voz incrivelmente em forma e pode fazer o que bem entender.
Entenda a carreira de Rod Stewart através de cinco músicas clássicas do cantor.
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