Dia do Forró. A história do ritmo mais nordestino de todos
No dia 13 de de dezembro, aniversário de Luiz Gonzaga, se comemora o dia do Forró
Estamos na sexta-feira 13, mas não tem como falar em azar quando essa data marca os 107 anos de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Nascido em Exu, pequena cidade de Pernambuco onde é considerado ídolo maior, o artista nordestino foi responsável quase que pela criação do ritmo que hoje é tanto amado em todo o Brasil, não coincidentemente, 13 de dezembro também é o Dia do Forró. Para comemorar a data, nós vamos falar um pouco sobre a origem do Forró e sobre as mudanças que aconteceram com o passar dos anos.
Antes de tudo, tenho certeza que muita gente não entendeu o primeiro parágrafo onde dizemos que ele foi o responsável pela “quase” criação do ritmo. Vamos lá, isso não é bem uma questão de opinião, mas sim um fato dito por Humberto Teixeira, primeiro e principal parceiro de Luiz Gonzaga em sua carreira musical.
“Alguns não sabem disso não é, Luiz? Mas o Baião é velho como o Sertão que deu benção a ele. Ele tem três, quatro séculos de existência. O que eu fiz com Luiz foi urbanizar, citadinizar, estilizar e dar características sulinas aquele ritmo da viola sertaneja. E dentro desse ritmo uniforme, comercial que o público aceitou tão bem, nós trouxemos os modismos, a Asa Branca, os retirantes, a seca, a história dos nossos irmãos do Norte para que os nossos irmãos do Sul conhecessem.”, comentou Humberto em entrevista para um programa dos anos 70. Confira o trecho abaixo.
E quando a palavra Forró foi utilizada pela primeira vez de forma oficial? Bem, existe uma certa polêmica entre cearenses e pernambucanos e nós vamos explicar isso agora.
Em 1950 Gonzagão lançou a música Forró de Mané Vito, considerada até os dias atuais a primeira vez em que uma gravação oficial de Forró foi lançada. Obviamente o Forró no nome é sobre um Forrobodó, como eram chamados os bailes populares da época, mas a música é, claramente, um Forró. Ouça a música abaixo.
Alguns cearenses ligados a cultura local reivindicam o pioneirismo do termo em uma música do ritmo Forró com a faixa Forró na Roça, de Xerém. A música foi lançada em 1937, 13 anos antes da canção do pernambucano.
O problema é que, de acordo com especialistas em música regional, a faixa de Xerém não se trata de um Forró e sim de uma moda caipira ou sertaneja da época. Ouça abaixo.
É importante lembrar que a música Forró de Mane Vito é o primeiro Forró que carrega o nome Forró, mas antes disso Luiz já havia lançado outras músicas que são parte do ritmo. A questão acima é apenas sobre a nomenclatura do ritmo.
Este primeiro período é onde nós podemos ver a criação e popularização do Forró em todo o Nordeste e no Brasil. A partir da década de 40 e nos anos seguintes o Forró como conhecemos no estilo de Luiz Gonzaga foi o que prevaleceu. Só a partir dos anos 70 que nós veríamos algumas variações.
Vale lembrar que muitos artistas surgidos nas décadas em que Gonzaga já estava fazendo sucesso, foram altamente influenciados pelo Rei do Baião, mesmo que não diretamente em seus ritmos. Nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil já declararam isso em algumas entrevistas.
Voltando ao tema principal, nos anos 70 alguns jovens artistas resolveram utilizar o ritmo de Gonzaga e modernizar de alguma forma, como com a inclusão de guitarras e os metais no Forró. Alguns fortes exemplos são Alceu Valença e Jorge de Altinho.
Abaixo você escuta a música Coração Bobo, de Alceu, um Forró já diferente do que fazia Luiz Gonzaga.
Mais ou menos na mesma época o cantor Jorge de Altinho fez uma mudança para um de seus CDs que acabou influenciando o Forró que é feito até os dias de hoje. Ele introduziu os metais em seu trabalho, como podemos ouvir na música Confidências.
Foi assim que seguiu o Forró na década de 80, entre trios Pé de Serra e versões mais modernas com artistas jovens, mas nos anos as coisas voltariam a se movimentar em duas vertentes, o Forró Universitário e o Forró Eletrônico, ou Estilizado, como preferirem.
Nos anos 90 um movimento ainda maior de modernização do Forró começava a surgir, com destaque para a Mastruz com Leite, considerado a maior banda de Forró de todos os tempos e não foi por pouca coisa, já que eles deram um novo rumo ao gênero e alavancaram o estilo por todo o Brasil.
Foi graças a Mastruz com Leite que o Forró conseguiu se renovar, atingir novos públicos e alcançar novamente um patamar alto no meio musical brasileiro. Nem tudo isso aconteceu de forma direta, pois a banda, além de fazer um enorme sucesso, também influenciou diversos outros grupos da região.
E o que mudou? As bandas da época adotaram elementos utilizados no Forró Pé de Serra, mas também trouxeram aquilo que foi adicionado em outras épocas, como guitarra, metais, baixos e teclados, este último uma novidade que ainda não era utilizada no ritmo.
As músicas da época ainda tinham uma forte presença de temas do Nordeste como a vaquejada, além de ter um forte apelo romântico.
Aqui uma pequena pausa, pois no fim dos anos 90 o Forró Universitário também apareceu ganhando força. Bandas como a Falamansa e Rastapé, que surgiram quase na mesma época e eram formadas por jovens universitários, resgataram um pouco do Forró Pé de Serra, mesclando com instrumentos como o violão, o que dava um tom diferente do Forró Estilizado.
Ainda dentro do que hoje consideramos Forró das Antigas, existiram bandas que surgiram na mesma década de outras como Mastruz com Leite, mas que tinham uma pegada um pouco diferente. Era o caso de grupos como a Gatinha Manhosa e a Calcinha Preta, que deram um foco grande na utilização da guitarra em suas músicas, majoritariamente românticas.
Chegamos ao começo dos anos 2000 com o surgimento de bandas como Saia Rodada, Aviões do Forró, Garota Safada e outras. Era uma nova fase do Forró que trazia um ritmo mais dançante e um investimento em várias vertentes diferentes. Nessa época vimos bandas fazendo sucesso com músicas românticas, letras de duplo sentido, artistas do Forró de Vaquejada, o Vaneirão e muito mais.
Foi também nessa época que vimos mais uma adição as bandas de Forró, popularizada pelo cantor Felipão. Estamos falando da percussão baiana, que veio forte e até os dias atuais marca presença em muitas bandas.
em 2005 a Saia Rodada ainda estreou o projeto Saia Elétrica, que consistia em bandas de Forró terem um projeto separado de seu show normal, em trios elétricos. Era uma opção para os grupos que ficavam sem muitos shows nos períodos carnavalescos. A aposta deu muito certo, visto que nos anos seguintes era difícil ver alguma banda que não tivesse o seu projeto para trios.
Daí pra frente as mudanças foram bem mais em partes administrativas e estratégicas, como a carreira solo, que aumentou consideravelmente no meio forrozeiro nos últimos anos, desde a saída de Wesley Safadão de sua antiga banda.
Atualmente o Forró é bem pluralizado, com todos os estilos anteriores convivendo juntos, além de artistas que fazem um verdadeiro intercâmbio entre ritmos, como no Forronejo ou na inclusão do Funk no Forró.
Claro que tudo isso sem entrar em detalhes como a Pisadinha e vários outros subgêneros que existem dentro do Forró há muitos anos e vez ou outra retornam ao topo.
Essa é um pouco da história do Forró, do seu surgimento e das mudanças que sofreu ao longo dos anos. Viva Luiz Gonzaga e viva o ritmo mais ouvido e amado em todo o Nordeste!
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