Conheça o trabalho de Cronos Titânico, expoente do rap carioca
Cria da Zona Norte do Rio de Janeiro, Cronos Titânico descobriu seu talento com as palavras ainda na infância. Aos 8 anos de idade, estreou no campo da literatura por meio de um livro desenvolvido em parceria com a avó. Na referida obra, além de colaborar com a criação de versos, o então garoto prodígio das artes atuou como ilustrador. Destinado ao público infantil, o livro vendeu mais de mil exemplares logo nos 3 primeiros dias de lançamento.
Em foi entre ruas e vielas do Complexo do Lins que o artista moldou sua evolução. Dividido entre a realidade cruel e crua da comunidade e o fabuloso mundo de conhecimento e fartura de arte, Cronos soube absorver a confusão tão enigmática que lhe trouxe o conhecimento para entender aquilo que muitos apenas ouviam. Apaixonado pela arte, amante do jazz, Soul e da Bossa Nova, a música era um caminho inevitável. Consequentemente, ele viu no hip hop a melhor linguagem para materializar o retrato social visto em seu universo particular.
“Num entanto, num segundo, os Racionais vieram a mão”
Num belo dia, jogando bola na rua com amigos de infância, o rapaz teve seus ouvidos arrebatados por uma batida fúnebre, mas que soava com um tom de malandragem e filmes de gângster. As primeiras palavras que ecoaram no ambiente provocaram um choque de realidade nos que ali estavam:
“Deixa eu fala procê
Tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase irmão
Logo mais vamo arrebentar no mundão
De cordão de elite, 18 quilates
Poê no pulso, logo um Breitling
Que tal? Tá bom?”
Depois de experimentar a densidade dos versos Vida Loka II, clássico dos Racionais MCs, a vida de Cronos não foi mais a mesma. A partir daquele momento, o rap brasileiro testemunhou o começo de uma caminhada… que continua até hoje, e só parece melhorar.
Surge um fenômeno
Naqueles tempos, o hip hop era marginalizado e as rimas eram feitas às escondidas. Em meio a tanto negativismo, Cronos viu senso crítico despertar em suas veias e, consequentemente, era chegada a hora de expor seu talento. Foi então que, do alto de seus 12 anos de idade, ele tomou partido da situação e participou de um festival de música organizado pela escola em que estudava. Na ocasião, o adolescente defendeu um rap que tratava dos problemas que envolvem a educação.
A faixa venceu várias etapas classificatórias e foi parar no Festival da Canção das Escolas Municipais (FECEM). De quebra, a música rendeu ao artista o prêmio nas categorias Melhor Canção e Melhor interpretação + interatividade com público. Detalhe: ele foi o único representante do movimento hip hop entre escolas participantes do concurso.
Apesar do começo avassalador, o rapper esbarrou em alguns detalhes que travaram o seu crescimento como artista. Dificuldades financeiras e falta de apoio familiar foram as principais dificuldades encontradas. Porém, como “tudo, tudo , tudo vai, tudo é fase” , Cronos não desistiu de seu sonho. Ao invés de entregar os pontos, ele optou por continuar lapidando seus talentos.
Recuperando os rumos
Em meados de 2014, Cronos já era adulto, independente e com o sonho bem vivo. Ciente do que desejava, entrou de vez para a cena hip hop carioca. Participou das batalhas de rap, frequentou rodas culturais e tratou de construir seu nome fora da capital.
Dois anos depois montou o grupo Faraóh MCs, um rolê formado por 3 MCs e um cantor. Bem ensaiados, sincronizados, com letras fortes e melodias marcantes, esses caras fizeram vários shows e cativaram um público interessante. De olho no profissionalismo, o quarteto enxergou duas necessidades fundamentais para uma carreira:
- gravar um disco
- contratar um professor de música
Porém, os problemas com grana novamente voltaram a atacar. Felizmente, desta vez, um conhecido das antigas apareceu em cena e impediu que as coisas saíssem dos trilhos. Trata-se de Eduardo Pinheiro, profissional com mais de 20 anos de música e multi-instrumentista (o cara toca mais de 15 instrumentos). Apesar de todos os esforços, o grupo não resistiu às crises internas e chegou ao fim. Novamente, nosso herói estava diante de mais um momento crucial na carreira.
CronosREC: a consolidação
Algum tempo depois do fim do Faraóh MCs, Cronos já estava pronto para recomeçar. Em parceria com seu “ex-amigo” Lukão, o artista criou a gravadora CronosREC. Entre 2017 e 2018, o trabalho repercutiu e deu força para que vários outros artistas surgissem no cenário.
“Colocamos diversos trabalhos na pista e fizemos uma banca nomeada de ‘Banca da Cronos’”, diz o rapper.
Além dos lançamentos, a CronosREC fez uma turnê de 30 dias, com mais de 12 shows, por todo Estado do Rio de Janeiro. Mas, em novembro de 2018, o projeto chegou ao fim e cada um seguiu seguiu sua caminhada.
Cronos Titânico, o incansável
Desde que começou sua carreira solo, pouco depois do encerramento da gravadora, Cronos Titânico não parou de produzir. Já lançou vários singles e o EP Atlas, cujo destaque é a faixa Diz.
Em suas rimas, o rapper continua apostando no discurso de conscientização. As letras fazem ácidas críticas sociais, além de abordar o cotidiano típico dos manos da comunidade. Seu single mais atual é a instigante e desafiadora BR021, faixa cujo texto fala sobre (falta de) empatia, autoritarismo e uso errado do poder.
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