Ouça cinco canções fundamentais da carreira de Beth Carvalho

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Ouça cinco canções fundamentais da carreira de Beth Carvalho

Em mais de 50 anos de carreira, cantora ajudou a fazer a trilha sonora do país

– Ouça cinco canções fundamentais da carreira de Beth Carvalho

A morte de Beth Carvalho, hoje (30) aos 72 anos, deixa um enorme vácuo não só no samba, mas na música brasileira como um todo. A cantora que começou nos anos 60 e estourou na década seguinte, fez parte de uma geração de intérpretes femininas que marcou época e ainda não foi superada – pensem em um tempo em que se comprava anualmente discos que hoje são considerados clássicos não só dela, mas também de Clara Nunes e Alcione.

Beth gravou com frequência e sempre manteve um padrão de qualidade em sua obra – ela podia não compor, mas sabia escolher muito bem o material para seus álbuns e jamais aceitou interferência de quem quer que fosse em suas decisões. Ainda assim, seus trabalhos na década de 70 são o melhor caminho para quem quiser se aprofundar em sua obra. Abaixo mostramos cinco canções que ela gravou que estão entre as suas mais importantes.

Andança” – 1969

O primeiro grande sucesso de Beth se deu com esse clássico incontestável da nossa música que ela defendeu no Festival Internacional da Canção de 1968, e se mostra em um estilo bem diferente daquele que o consagraria anos mais tarde. A composição de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós ficou em terceiro lugar, naquela famosa edição em que a vencedora, “Sabiá” de Tom Jobim e Chico Buarque, foi fortemente vaiada depois que o júri a considerou superior a favorita do público “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” de Geraldo Vandré que acabou como a vice-campeã.

A música deu nome ao primeiro LP da cantora, um disco um tanto esquizofrênico que mistura canções de pegada mais moderna, as faixas gravadas com o Som 3 e os Golden Boys, com outras em formato mais conservador.



1800 Colinas” – 1974

A prova de que Beth era uma pessoa de personalidade forte pode ser vista nos anos que se seguiram. Ela já estava decidida a ser uma cantora de samba. O “problema” é que a sua gravadora, a EMI, já tinha em Clara Nunes uma artista que também havia optado por vir com essa proposta. Carvalho então sai da multinacional e, após quatro anos sem gravar acabou na pequena gravadora Tapecar – que faturava alto lançando os discos do selo Motown no Brasil.

Ali, ela gravou três discos, sendo que o segundo, “Pra Seu Governo” de 1974, estourou graças a especialmente a esse samba composto por Garcia do Salgueiro.

As Rosas Não Falam” – 1976

Beth encontraria a sua casa definitiva, e entraria em seu período de maior popularidade, na segunda metade da década de 70, quando assina com a poderosa RCA. Em seu primeiro disco na nova gravadora, ela entregou um disco de grande força onde se destaca a primeira gravação dessa, que é uma das músicas mais belas já feitas em solo brasileiro (e também uma das mais curtas, com apenas 1 minuto e 50 segundos). A versão feita por Cartola, o seu autor, sairia logo depois, mas foi na voz de Beth Carvalho que ela se tornou nacionalmente conhecida.

Saco de Feijão” – 1977

Consagrada como uma das maiores vendedoras da nossa indústria, Beth está sempre frequentando as rodas de samba cariocas em busca de músicas inéditas que lhe chamam a atenção. Ela assim dá voz para compositores que, se não fosse por ela, talvez jamais teriam sido gravados. Entre as suas descobertas nessas andanças está esse grande sucesso, escrito por Francisco Santana.

Vou Festejar” -1978

Em 1978, Beth Carvalho lançaria aquele que talvez seja o seu disco mais importante e emblemático que causaria uma revolução em todo o samba. Foi em “De Pé No Chão” que ela revelou ao país a turma do Cacique de Ramos, um bloco de carnaval, mas também um agrupamento de compositores que se reuniam semanalmente para mostrar as suas novas criações.

Basta dizer que foi dali que saíram nomes como Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha e Jorge Aragão – todos futuros integrantes em algum momento do Fundo de Quintal.

A cantora também entendeu que valia a pena gravar com aqueles músicos que usavam instrumentos, na época tidos como fora do padrão: o banjo com quatro cordas e afinação de cavaquinho, o repique de mão e o tantã – um trio que se tornaria padrão no samba nos anos que se passaram.

Nascia assim não só um marco da nossa música, como um trabalho muito bem sucedido onde se destaca essa canção de Jorge Aragão, Neoci e Dida que hoje, mais de quatro décadas depois, já faz tanta parte das nossas vidas que até parece ser uma cantiga popular.

Beth Carvalho seguiu gravando e fazendo sucesso nos anos 80 e além. Afinal como se esquecer de “Coisinha do Pai“, “A Chuva Cai ou “Toque de Malícia“?

Entre os álbuns, vale destacar o ousado “Traço de União” de 1982 marcado por canções compostas em parcerias entre artistas da MPB (Caetano Veloso, Toquinho, João Bosco, Ivan Lins…) com o pessoal do mundo do samba – (Almir Guineto, Dona Ivone Lara, Nei Lopes e (Martinho da Vila, entre eles). Também interessante é ver que seu disco de 1983, “Suor no Rosto”, trazia uma faixa chamada “Camarão Que Dorme A Onda Leva” co-assinada por um jovem desconhecido chamado Zeca Pagodinho, que também dividia o microfone com ela.

Seu último disco de estúdio, “Nosso Samba Tá Na Rua” de 2011 com capa que remete à de “De Pé No Chão”, também mostra que até o fim, Beth Carvalho seguiu inovadora e irriquieta, ao mesmo tempo em que marcava sua posição como grande guardiã da mais popular de nossas músicas. Ela não era chamada de “Madrinha do Samba” por acaso.

Para conhecê-la um pouco mais, vale a pena assistir a esse episódio do programa “O Som do Vinil”, apresentado por Charles Gavin no Canal Brasil, que foi dedicado a ela, e em especial ao disco “De Pé no Chão”.

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