Marcelo Nova fala sobre o Camisa de Vênus e os quase 40 anos de estrada no rock brasileiro
Músico comenta o momento atual da carreira e faz um balanço de sua trajetória
– Marcelo Nova fala sobre o Camisa de Vênus e os quase 40 anos de estrada no rock brasileiro
O auge do sucesso se deu nos anos 80, quando o Camisa se tornou uma das mais populares bandas do nosso rock. Músicas como “Eu Não Matei Joana D’arc“, “Hoje“, “Só o Fim, “O Adventista“, “Simca Chambord“, “Só o Fim” e também as politicamente incorretas, “Bete Morreu” ou “Sílvia“, são fundamentais para quem quiser fazer um panorama do rock feito no Brasil nos anos 80.
Marcelo desfez o Camisa em 1987, quando o quinteto estava em um de seus melhores momentos, partindo para uma carreira solo que pode não ter gerado sucessos radiofônicos, mas rendeu uma série de discos que merecem ser ouvidos e descobertos por mais pessoas.
Nova, um artista “que estragou a vida de muita gente”, como diz ele mesmo bem-humorado, falou com o Vagalume sobre a atual fase da carreira, como é estar ainda na estrada com o Camisa e sobre “O Galope do Tempo”, a excelente biografia escrita por André Barcinski a partir de uma série de conversas entre o jornalista e o compositor.
Sobre a atual fase do Camisa, Nova se revela satisfeito, e mostra que hoje se sente bem com o seu legado. A banda retornou efetivamente em 2015, em uma nova formação que conta com ele e o baixista original Robério Santana, também como uma forma de reclamar para si o nome do grupo que estava sendo usado pelos ex-guitarristas Karl Hummel (morto em 2017) e Gustavo Mullen.
“O Camisa ficou inativo durante 20 anos, de 1996 até 2015, quando nós fizemos uma turnê nacional em que percorremos o país de Natal a Porto Alegre, evidentemente tocando músicas do passado já que não eram 20 dias, ou 20 meses, mas 20 anos que não nos apresentávamos.”
Durante esses shows, Marcelo percebeu que o público da banda havia se ampliado bastante, abarcando pessoas das mais diversas faixas etárias, “senhores de 70 anos, coroas de 40, garotas de 20 e meninos de 15”, conta. A surpresa se deu especialmente porque, em sua carreira solo, ele diz que a audiência é bem mais homogênea, formada por pessoas na faixa dos 30 anos.
Foi quando ele entendeu que era chegada a hora de gravar um novo álbum da banda, o sexto de estúdio. “Eu não sou maestro do baile da saudade e não gosto de ficar apenas e tão somente reciclando meu hits, embora eu deva a eles a minha popularidade. Evidentemente eles tiveram importância muito grande nisso.” Nascia, assim, o bem recebido “Dançando na Lua”, que chegou ao mercado em 2016 e cumpriu também a missão de arejar os setlists dos shows.
E é ao vivo que o Camisa de Vênus sempre se mostrou mais imponente. Afinal, é deles um dos maiores, senão o maior, disco ao vivo do rock brasileiro: “Viva” de 1986.
Marcelo compara o momento da banda nos anos 80 com a que está na estrada atualmente. “Em 86 estávamos todo imbuídos de um desejo de mostrar que o nosso trabalho tinha uma relevância. Porque enfrentamos inúmeras dificuldades, desde o nome Camisa de Vênus, que era visto como uma palavrão. Nós somos pré-AIDS, né (risos). Então era difícil tocar em rádio e televisão, o fato de termos palavrões em algumas letras não ajudou em nada. Então aquele era um período em que estávamos demonstrando o poder que a banda tinha, ao ponto de lançarmos esse disco ao vivo e não termos o submetido à apreciação da censura, que foi mais um fator complicador, mais um.”
Explicando: naquele momento o Brasil passava por uma fase de transição. A censura que vigorou com força nos anos 70 já não tinha a mesma força, e, ao menos em tese, já estava extinta. No final, o disco saiu com oito de suas dez faixas com execução pública proibida, ainda que alguma emissoras tenham peitado a proibição e tocado algumas de suas músicas, mesmo que com os palavrões editados.
Mais de 30 anos depois daquele momento icônico, Nova sente que o Camisa, em seu momento atual, está mais maduro e tocando melhor, “uma banda soberba”, resume. “Hoje não temos que provar nada pra ninguém. Temos quase quatro décadas, com um trajetória consistente do ponto de vista musical. Hoje continuamos cultivando o cerne de nossa obra, mas também nos damos o direito de nos divertirmos.” Esse momento também foi registrado para a posteridade no DVD e CD ao vivo “Dançando em Porto Alegre”, lançado recentemente.
A carreira e pontos marcantes da vida de Nova foram compilados em “O Galope do Tempo”, livro lançado no final de 2017 e que colheu merecidos elogios, por mostrar uma trajetória bastante fora do comum, e com vários momentos absolutamente hilários.
“O livro saiu graças ao talento e insistência do Barcinski, que reclamava de eu ainda não ter feito uma autobiografia e eu respondia que não tinha nenhuma paciência para ficar cinco ou seis anos sentado em uma cadeira escrevendo sobre Marcelo Nova, eu já conheço ele demais… não fazia parte dos meus planos me concentrar e escrever uma autobiografia.”
Barcinski então convenceu o músico a lhe dar uma série de entrevistas que se estenderam por um período de quatro anos. De posse daquele material, o jornalista editou tudo e colocou no livro o que ele achou mais interessante, sem nenhuma interferência de Nova, que gostou do resultado final. “Foi preciso editar porque senão seriam preciso quatro livros”, se diverte.
Mesmo com o Camisa fazendo um bom número de shows, Marcelo também não abre mão de ter uma carreira solo que se inciou em 1988, depois do primeiro fim da banda. Nesses 31 anos ele lançou sete álbuns de estúdio, incluindo aí “A Panela do Diabo”, gravado em parceria com Raul Seixas que teve em Nova o seu último parceiro e incentivador. O disco chegou às lojas dois dias antes da morte do lendário músico.
Ele diz não ver a necessidade de optar por ser artista solo ou membro de banda, dando a entender que elas dão vazão a diferentes necessidades artísticas. “O Camisa é uma banda que tem características muito próprias e particulares. Se você sair dessas características, vai virar uma outra banda e eu nunca tive a intenção de descaracterizar a minha própria criação…. o Marcelo Nova já é um indivíduo, um artista que pode se dar ao luxo de fazer o que quiser. Eu posso experimentar sonoridades e texturas ao meu bel prazer. Eu não posso deixar o Camisa parecendo com o Pink Floyd (risos) então tem essa diferença sim. As coisas que eu colocaria em um disco solo, não são necessariamente as que eu colocaria no álbum da banda.”
Marcelo é um artista que aos 67 anos se mostra satisfeito com sua obra e legado. “Antes eu ficava querendo alterar o que tinha feito”, responde sobre quando é perguntado se ouvia os seus próprios discos e a sua relação com eles. “Agora com mais de 20 discos, já não fico mais em busca do que poderia ter feito, até porque é uma busca inglória, já que não vai conseguir refazer o que já foi feito. Então, tem disco que você percebe que poderiam ter sido melhores e outros em que sente que atingiu exatamente aquilo que queria”, conclui.
O Camisa de Vênus se apresenta nessa sexta-feira, dia 19 em São Paulo no Teatro Bradesco. Ingressos aqui.
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