5 perguntas para Flávia Ellen, expoente da cena mineira de música independente
Natural de Belo Horizonte (MG), a cantora, musicista e compositora Flávia Ellen tem 10 anos de carreira. Depois de lançar um single e um EP, artista acaba de colocar na praça o seu álbum de estreia. Intitulado Desperta, o disco é autoral e apresenta uma musicalidade intensa, densa e reflexiva.
No da correria que envolve os trabalhos de lançamento, Flávia topou trocar uma ideia aqui com a gente. Na conversa, ela falou sobre carreira, influências e, claro, a nova obra.
1. Blog Palco MP3: Quais as grandes lições os festivais trouxeram para sua carreira?
Flávia Ellen: a primeira grande lição foi que eu precisava ser versátil. Alguns festivais tinham banda de apoio, então tiravam o violão de mim. Eu quase nunca me apresentava sem violão, ficava desnorteada quanto à presença de palco. Aos poucos, fui aprendendo sobre essa presença, especialmente entendendo que cada artista tem sua forma de se fazer presente. Dessa lição veio outra: a preparação. É fundamental estar preparado e estudar bastante tudo que envolve sua arte antes de subir ao palco. Isso torna a apresentação mais natural e segura.
E outra grande lição foi que eu definitivamente não me encaixo bem em mostras competitivas. Não acho que a arte tenha espaço para a competitividade, para o “melhor intérprete”, “melhor compositor” ou “melhor performance”. O legal é estar em um festival que não se baseie nisso, porque promove a integração entre os artistas. E essa é uma das partes mais legais de ser artista.
2. Impossível deixar de falar de Filme de Amor, esse axé delicioso que você gravou! Conta pra gente como foi que rolou a gravação da música!
Flávia Ellen: Filme de Amor é um axé que se originou do livro “Na Minha Onda”, da talentosa escritora Laura Conrado, quem me convidou para fazer a música. Já existiam alguns versos no livro, cantados pela personagem principal. Eu peguei, tirei da cabeça toda a minha influência de Banda Eva e Cheiro de Amor que me permearam desde o nascimento, e fiz Filme de Amor. Para mim, foi muito natural gravar a música. Se muitos sabem que Marisa Monte é minha maior referência, poucos sabem que eu me espelhei muito na Ivete quando era adolescente. Eu sempre escutei muito axé, então a gravação dessa música foi uma delícia. De certa forma, acalentou meu coração, que ama a cultura baiana.
3. Sua MPB flerta bastante com blues e música pop. Qual o segredo para equalizar tanta sonoridade distinta com tanta perfeição?
Flávia Ellen: perfeição é exagero, né? [risos] Mas com muita qualidade, sim. O segredo é transmitir uma verdade pela arte e ter um produtor como o Richard Neves. Tudo que é verdadeiro na música é bonito, independentemente de estilo. Desde a minha infância, são três estilos que sempre estiveram presentes.
Meu tio me ninava tocando blues. Meus pais sempre escutaram música brasileira. Eu adoro pop. Então a junção é natural.
Mas o papel do produtor é fundamental para dar coesão ao trabalho, encontrar o espírito dessa junção de forma que me retrate como artista. Equalizou bonito demais.
4. Desperta é um disco para dançar com o corpo e com a mente. Artistas que buscam esse tipo de conceito encontram mais resistência no mercado atual?
Flávia Ellen: Eu não sei dizer, sinceramente, porque nunca pautei meu trabalho considerando a aceitação externa. Minha preocupação sempre foi transmitir o que eu acredito dentro do que eu gosto. Acredito que é um disco que atinge sim um público amplo, ainda que algumas letras demandem um pouco mais de atenção para serem compreendidas. Mas eu entendo que qualquer artista cabe em um nicho. Resta a nós saber explorar a característica desse público-alvo.
5. A letra de No Fio da Navalha é um verdadeiro “papo reto”! Qual seria o jeito mais certeiro para quebrar um ou outro “ciclo infernal” que não deixa a vida fluir?
Flávia Ellen: Acredito que No Fio da Navalha, apesar de tratar da superação do ciclo de violência doméstica, traz algo comum sobre nossos ciclos infernais: é preciso muita força de vontade e auxílio externo. Vez ou outra, a gente se encontra em uma situação difícil sem conseguir entender o que exatamente a provoca. Para ver que o furacão não é somente um vento forte, é preciso sair do seu epicentro, olhar de cima, entender a magnitude da coisa. É uma metáfora que eu gosto muito pra descrever qualquer inferno pessoal pelo qual passamos. A força de vontade está nesse exercício de racionalizar. Já a necessidade de um olhar de fora cumpre outro papel. Uma amiga, um familiar ou um profissional pode ser a virada de chave que a gente precisa para quebrar essas dificuldades. E autoconhecimento. Sempre. Essa busca é eterna e move montanhas, sem dúvidas.
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