Nos 70 anos de Guilherme Arantes, ouça cinco grandes discos do mestre do pop brasileiro
Primeiro disco solo do pianista saiu em 1976
– Nos 70 anos de Guilherme Arantes, ouça cinco grandes discos do mestre do pop brasileiro
Se houve um tempo em que ele foi visto como muito popular, ou mesmo “brega”, essa percepção há tempos já se acabou. Hoje, Guilherme é enxergado como um compositor de mão cheio e um “artesão do pop” (termo que ele não gosta muito, mas como definir um compositor que tenha tantos hits que se tornaram eternos?).
Para celebrarmos a data chegamos em um saudável meio termo. Nessa seleção de cinco discos de sua longa carreira, escolhemos quatro discos de carreira que mostram que o pianista não pode ter sua obra reduzida aos “grandes êxitos”, mas também colocamos uma compilação com alguns hits inesquecíveis.
“Guilherme Arantes” – 1976
Uma aula de concisão e talento pop, a estreia solo do pianista tem apenas 10 músicas em menos de 30 minutos e é perfeita. “Meu Mundo e Nada Mais” é o hit eterno, mas “Cuide-se Bem“, “Nave Errante” e “A Cidade E A Neblina” não ficam atrás. Escolhido recentemente um dos 100 maiores álbuns já feitos no Brasil (no livro editado pelo jornalista Ricardo Alexandre que lista 500 discos, ele está na 93ª posição).
“A Cara e a Coragem” – 1978
O terceiro álbum de Guilherme marca sua estreia na Warner e precisa ser redescoberto. Um trabalho sem grandes hits e marcado pela melancolia, é um dos trabalhos mais confessionais já feitos no pop brasileiro. Influências de Beatles, rock progressivo dão a tônica sonora de um LP que parece prenunciar que um pop rock brasileiro menos sisudo, e mais popular, já podia ser visto no horizonte (“Nossas letras são uma papagaiada, só servem de de adorno/O som não acrescenta mais nada/Os shows de rock dão sono” ele canta em “Show de Rock“). “Coração Paulista”, o disco de 1980, também em levada mais roqueira, é igualmente recomendável.
“Amanhã” – 1983
Em 1983, ano em que deixou a Warner, Guilherme Arantes já tinha emplacado sucessos em quantidade o suficiente para merecer um “greatest hits”, talvez o primeiro do nosso pop moderno. “Amanhã”, tem dez músicas e músicas que estão na nossa memória coletiva como “Deixa Chover“, “Planeta Água“, “Lance Legal” e a faixa-título. Como o artista passou por várias gravadoras, uma compilação definitva com todos o seu sucessos nunca pôde ser feita, ao menos em vinil ou CD, claro.
“Despertar” – 1985
Em 1985, o compositor foi para a poderosa CBS. A troca de gravadora certamente lhe faz bem comercialmente, ainda que tenha lhe custado certa credibilidade. Como ele mesmo já disse em entrevistas, a companhia acaba o promovendo como um “cantor romântico”, do tipo que saía mais na revista Contigo do que na Bizz – a grande publicação musical brasileira surgida também em 1985 (a capa de “Despertar”, com o cantor em “momento sensual” comprova a declaração).
Se os álbuns posteriores se mostraram irregulares, mas sempre com grandes momentos, esse aqui é uma festa. “Cheia de Charme“, “Fã Número 1“, “Brincar de Viver“, “Estrela Sensual” fazem deste um daqueles discos que mais parecem uma coletânea. Apesar de alguns arranjos tipicamente oitentistas, o LP sobrevive muito bem e também está incluído na lista dos 500 álbuns já feitos no país (na posição 483).
“Condição Humana” – 2013
Depois de uma década cheia de sucessos, os anos 90 e os 2000 viram Guilherme Arantes lançando discos de pouca repercussão, alguns por gravadoras pequenas. Na segunda década do século 21, ele acaba fazendo algo parecido com o que Elton John, com quem muitas vezes foi comparado, já vinha fazendo há algum tempo.
Percebendo que o mundo havia mudado e que não fazia sentido em ficar correndo atrás dos grandes sucessos populares, seria melhor simplesmente seguir o seu coração e gravar álbuns sem maiores preocupações comerciais. Em 2002 Elton lança “Songs From The West Coast”, que se torna seu disco mais elogiado desde os anos 70 e marcou o início de uma ótima fase.
“Condição Humana” faz o mesmo com Guilherme. Seu trabalho mais forte e pessoal em muito tempo, ganha elogios da crítica, que já o trata com o merecido respeito, e também com uma nova geração de artistas brasileiros. O mais recente álbum do cantor, o ambicioso “A Desordem dos Templários” (2021) mostra que, aos 70 anos, Guilherme Arantes segue inquieito e ainda capaz de surpreender.
Nos 70 anos de Guilherme Arantes, ouça cinco grandes discos do mestre do pop brasileiro.
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