Vampiros

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José Afonso

No céu cinzento sob o astro mudo

Batendo as asas pela noite calada

Vêm em bandos com pés de veludo

Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada [bis]

A toda a parte chegam os vampiros

Poisam nos prédios poisam nas calçadas

Trazem no ventre despojos antigos

Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo

Senhores à força mandadores sem lei

Enchem as tulhas bebem vinho novo

Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos na noite abafada

Jazem nos fossos vítimas dum credo

E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada


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