Raio-X: em disco de estreia, banda Dom Pescoço dá aula de pluralidade musical
Diretamente das adjacências de São José dos Campos (SP) e, consequentemente, do Vale do Paraíba, a banda Dom Pescoço acaba de lançar seu primeiro disco completo, “Tropsicodelia”. Com um punhado de boas músicas na mente e as mais variadas e ótimas referências no bolso, o quarteto acertou a mão e deu à cena independente um dos trabalhos mais bem feitos desta primeira metade de 2018.
Das dez faixas do disco, sete são inéditas e autorais. As temáticas das letras variam entre críticas sociais, amor, good vibes, pequenos vícios, espiritualidade, entre outros assuntos conexos. A forma como os arranjos musicais se juntam, se convergem e se misturam também é um aspecto marcante do trabalho. É praticamente uma antropofágica ópera rock.
O disco começa com o verso “Eu quero viajar, pra longe desse lugar”, extraído da faixa “Além de Belém do Palá”. Logo “de cara”, nós concluímos que a Dom Pescoço não pretende ancorar seu trabalho, seu som, em algum ponto pesqueiro do Rio Paraíba. Sendo assim, não fica difícil de imaginar que a sequência do álbum é punhado de músicas que vão levar o ouvinte para dar um rolê na “Penny Lane”, com direito a caminhadas por Montevidéu, Saratoga, Nordeste do Brasil, uma descansada no jardim de “Strawberry Field” e um café com pão de queijo no “Clube da Esquina”.
A faixa título é um rock gostoso que, guardadas as devidas proporções, relembra os momentos mais antropofágicos d’Os Mutantes. Certamente, o grande Arnaldo Baptista vai sentir um puta orgulha ao ouvir os versos “Mamãe me dá um pedal da Boss?/Que tá difícil enfeitar minha voz!/Nem Tame Impala, nem Jetrho Tull!/Vem todo mundo tomar Tom Zé!”. E, de quebra, a banda ainda dá uma cutucada na turma de artista que se rende ao perigoso canto da sereia entoado pelo ardiloso mercado fonográfico.
Com elementos de música latina, que revelam uma pegada à la Carlos Santana, a música “Tchau” é um dos grandes momentos do álbum. O clima alto astral da canção é um perfeito cenário para a letra que é um fiel retrato de quem já cansou de ser sacaneado por um complexo de sistemas demagogos, cretinos e falidos. Mais alguém aí se identifica?
Outro ponto emblemático do disco é a faixa “Menino”. A música abre com uma guitarra que carimba nosso passaporte para o lendário sítio dos Novos Baianos, mas, não mais do que de repente, é tomada de assalto por uma caribenha linha de baixo que não permite ninguém ficar parado. Para temperar ainda mais o caldeirão, a banda derrama uma poesia com traços concretistas. Mais surpreendente, impossível!
Com “Tropsicodelia”, a galera da Dom Pescoço reafirma sua condição de uma das bandas mais “tupiportoguaranifricanas” do rock and roll brasileiro. Aos fãs do “tão combatido, jamais vencido” estilo, uma recomendação: sempre que você achar que rock já era, dê uma passada no Palco MP3 desse quarteto e deixe o disco de estreia deles rolar do início ao fim.
Raio-X: em disco de estreia, banda Dom Pescoço dá aula de pluralidade musical
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